Em meio à diversidade gastronômica de Fortaleza, um pequeno restaurante conquistou espaço e tornou-se referência em massas artesanais. À frente do Del Plata Pastas Artesanais, está Gerardo Hugo Vega, argentino de raízes italianas que encontrou no Ceará o lugar para viver, mas também para dar vida a um projeto que mistura tradição, inovação e afeto. Em entrevista exclusiva ao Gastronomia e Mídia, ele compartilha a trajetória do restaurante e a essência de seu trabalho.
O Del Plata nasceu em 2016 como uma cozinha voltada apenas para encomendas de massas, mas logo se transformou em restaurante. “O modelo de encomendas não funcionou e, em 2018, decidimos abrir as portas ao público. A inspiração veio de uma visita a um restaurante italiano na Vila Mariana, em São Paulo, e também do apoio de amigos da Argentina, que inclusive me emprestaram dinheiro para comprar as primeiras mesas e cadeiras”, relembra Gerardo.
A relação dele com a gastronomia está enraizada na infância. “Venho de uma família descendente de imigrantes italianos. Aos domingos, todos se reuniam em volta das massas preparadas pelos meus avós. Depois de muitos anos em empresas, me vi em uma crise pessoal aos 46 anos e busquei nas lembranças familiares um novo propósito. Foi assim que mergulhei no mundo das massas artesanais.”
No Del Plata, cada prato é guiado por três pilares fundamentais: o artesanal, o autêntico e o original. “Trabalhamos com lotes pequenos, respeitamos a tradição das massas antigas e buscamos inovar sem imitar. Não somos um restaurante ‘italiano’ ou ‘argentino’, somos especializados em massas artesanais”, explica. Essa essência, no entanto, precisou dialogar com os hábitos locais. “O desafio foi adaptar a forma de apresentar o prato. Aqui, o público tem o costume de sempre esperar a proteína junto, diferente da tradição italiana. Então fomos ajustando receitas e ingredientes, sem perder identidade.”
Sobre os pratos, Gerardo destaca alguns que considera indispensáveis para quem visita a casa: o Cariri, o Camarão Del Plata, o Cinque Terre e o ousado LGC, que mistura linguiça, gorgonzola e chocolate em uma combinação única. “Esse foi o mais desafiador de criar, mas é também um dos mais marcantes. É preciso coragem para colocar no cardápio um prato assim.” Já entre as memórias afetivas, ele aponta as entradas, como as empanadas, o chimichurri e a polenta.
Mais do que comida, Gerardo faz questão de oferecer uma experiência de acolhimento. “Sou eu quem está à frente do atendimento, ouvindo o cliente e conhecendo quem chega. Quero que cada visita ao Del Plata seja pessoal, única.”
Empreender na gastronomia, ele reconhece, exige resiliência. “O maior desafio é entregar a qualidade que o público espera a um preço justo. Cada etapa tem sua dificuldade: se tornar conhecido, se firmar, ser rentável, manter a proposta e crescer.”
Para quem ainda não conhece o Del Plata, o convite é direto: “O universo das massas artesanais é riquíssimo. Venha disposto a viver sua própria experiência aqui, não a que seus amigos ou influencers viveram. Cada visita é única.”
Assim, o Del Plata segue construindo sua história em Fortaleza: um restaurante que combina a memória afetiva de um argentino descendente de italianos com a adaptação ao paladar cearense, sem abrir mão da originalidade que o torna especial.